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segunda-feira, 10 de maio de 2021

COLUNA DO DELEGADO LESSA

 


Jacarezinho: polícia versus criminalidade

A Operação Exceptis, da Polícia Civil em Jacarezinho, no Rio de Janeiro, no último dia 06, tem gerado uma repercussão internacional. O Alto Comissariado da Organização das Nações Unidas (ONU) para Direitos Humanos, com sede em Genebra, na Suíça, chegou a pedir ao Ministério Público que a investigação sobre o caso ocorra de forma independente, completa e imparcial. A operação terminou com 27 mortos, entre eles o inspetor da Polícia Civil André Frias, de 48 anos.

A Polícia aponta que, dos 27 mortos, 25 possuem antecedentes criminais e há provas de que os outros dois também eram ligados ao narcotráfico. Segundo a instituição, eles eram uma espécie de ‘soldados’ do tráfico, ou seja, o braço armado da organização criminosa Comando Vermelho na zona norte do Rio de Janeiro. Além de assassinatos, roubos frequentes e sequestros de trens que circulam pela comunidade, os traficantes estavam inclusive realizando aliciamento de menores para o mundo do crime.

O policial morto na operação era casado desde 2018 com uma policial civil e tinha um enteado de 10 anos de idade. André Frias também era o responsável pelo sustento da mãe, que há três anos sofreu um acidente vascular cerebral (AVC) e vive sobre uma cama. O agente foi assassinado logo no início da operação, pouco depois das 06h. Ele havia acabado de descer do veículo blindado da Polícia Civil – conhecido como ‘Caveirão’. A equipe de profissionais de segurança foi alvejada por traficantes que estavam em uma construção de concreto com buracos para os bandidos colocarem fuzis e realizarem disparos.

Até o momento, o que se percebe é que a Polícia Civil do Rio de Janeiro agiu com coragem. Os profissionais cumpriram seu papel em uma difícil missão de enfrentar o crime organizado, que se instala como um ‘Estado paralelo’ em algumas comunidades. A instituição realizou o trabalho de inteligência por mais de 10 meses, identificando os criminosos e demonstrando as informações ao Ministério Público. Chegando ao local, pode-se inferir que os bandidos não se entregaram, houve confronto e a Polícia respondeu à resistência com a linguagem que a criminalidade entende.

Ninguém há de discordar do pedido da ONU que as investigações ocorram de forma imparcial – o que, pressupõe-se, deve analisar tanto a conduta dos agentes da lei quanto a dos bandidos. Convém salientar que neste caso sobram razões para lamentar. É lamentável ver jovens morrendo por terem entrado no lamaçal sangrento da criminalidade. É também motivo de lamento ver profissionais perdendo a vida para garantir segurança à população – e serem alvos de críticas de alguns setores por questões puramente ideológicas e desvinculadas da realidade das ruas.