PORQUE É TÃO DIFÍCIL NASCER NO BRASIL?
Na última
semana, o jornal Bom dia Brasil trouxe uma reportagem denunciando a precária
assistência a parturientes no país. Ressaltando a antiga peregrinação a qual as
brasileiras precisam percorrer na maioria dos estados para conseguir parir. O
momento do parto é algo totalmente novo para essa mulher, mesmo que a mesma já
tenha vivenciado essa situação em gestações anteriores.
Nos últimos
cinco anos, em Pernambuco 7 maternidades foram fechadas, além de outras terem o
seu horário de atendimento reduzido. Muitos municípios não realizam o parto na
localidade, mesmo que esse seja de baixo risco, e isso tem gerado o que podemos
chamar de caos. Afinal, as unidades de referência às quais deveriam atender
somente gestantes classificadas como Alto Risco, superlotam recebendo demandas
que não correspondem as delas.
Nascer no
Brasil tem sido ao longo dos anos um verdadeiro desafio. Falhas na atenção
básica/alta complexidade, que envolve desde a má condução do pré-natal até a
culminância no momento do parto, fazem parte de uma realidade que precisa ser
encarada. O problema não está apenas no agravante da peregrinação, mas sim em
todo o processo, que inicia com a confirmação da gravidez e vai até o puerpério
(média de 42 dias pós-parto).
Um grupo de
pesquisa liderado pela Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca, a qual
estuda diversos aspectos sobre os partos/nascimentos em nosso país, tendo um
projeto denominado Nascer no Brasil: Inquérito Nacional Sobre Parto e
Nascimento, trás dados alarmantes. Entre outras evidências científicas, foram
identificadas disparidades raciais no processo de atenção à gestação e ao parto
evidenciando um gradiente de pior para melhor cuidado entre mulheres pretas,
pardas e brancas. O estudo aponta que gestantes de cor preta tem um índice maior
de pré-natal sem qualidade, peregrinam mais para parir, recebem menos anestesia
quando necessário e sofrem mais com ausência de acompanhante.
Outro resultado
importante que o grupo trás, é que 66% das brasileiras optam pelo parto normal,
porém os índices de cesariana continuam extremamente elevados. Apenas 45% das
entrevistadas desejaram a gravidez atual. Ou seja, menos da metade planejaram
esse evento. Então, podemos concluir que também falhamos no Planejamento
Familiar, que deveria acontecer de forma eficiente dentro da Atenção Básica.
São inúmeros aspectos a serem resgatados na assistência obstétrica. Falta
estrutura, profissionais sem humanização e conhecimento técnico/científico,
práticas ultrapassadas, investimentos absurdos na medicalização de algo que
deveria ser fisiológico, entre muitos outros... Então fica a indagação: Porque
é tão difícil nascer no Brasil?
Essa foi minha
opinião de mulher de hoje. Participe conosco enviando suas dúvidas,
questionamentos e sugestões para dra.nayarasousa@hotmail.com