CRÔNICA DA TRAGÉDIA
ANUNCIADA
O exercício da política pode
atrapalhar, se a atmosfera do centro de decisões ficar contaminado pela
toxidade do poder, poder que, como dizem uns: chega a cegar, revelar, alienar
ou dificultar na tomada de decisões. A busca pelo poder também pode conduzir ao
mesmo caminho.
A polarização política
aberta nas trincheiras das ruas e urnas ganharam um novo campo de batalha, o
coronavírus. A ciência fria, intocada, foi infectada em certos aspectos pela
guerra ideológica. Isolamento vertical ou horizontal, uso ostensivo de
cloroquina ou a espera por mais teste, economia ou saúde, abre ou fecha o
comércio, questões complexas ganham ares de simplificadas com a escolha de
lado, a depender de conveniências políticas e ideológicas.
Os impactos políticos do
COVID-19 ainda não podem ser medidos e dimensionados em sua amplitude, mas logo
se percebe que parte da opinião pública demonstra uma aptidão para o caminho do
centro. Mudou-se o eixo gravitacional que conduziram o Presidente Bolsonaro ao
poder. Antes, o antipetismo e
antilulismo e o seu oposto ao
bolsonarismo davam a tônica do debate político no Brasil; com o abandono
de ações contemporizadoras acerca do coronavírus, houve o fortalecimento de
movimentos ligados ao centro, corroendo o capital político do Presidente e
colocando a oposição Lula/PT/Esquerdas na periferia do debate público e
político.
O principal agente do caso é
o próprio Presidente da República que, por meio de uma série de contradições e
gestos erráticos, corroe, dia a dia, seu capital político. Pesquisa realizada
pelo Datafolha acerca do desempenho das autoridades no combate ao coronavírus
apresentam um cenário interessante. O Presidente figura com 33% de aprovação;
já o Governador de São Paulo tem 51% e o do Rio de Janeiro 55%. Em uma força
motriz antagônica ao pensamento do Presidente, o Ministro da Saúde aparece com
aprovação de 76% quando a pauta é ações de combate ao coronavírus.
Já a oposição de esquerda,
sem pauta propositiva, juntou os desafetos Ciro Gomes, Haddad e outros, como
Boulos e Dino, que pediram a renúncia de Bolsonaro em manifesto produzido pelo
som das panelas que vibraram e agitaram os opositores. O manifesto mostrou-se
alternativa sem viabilidade e, se posto adiante, geraria mais caos, insegurança
e instabilidade. O pedido de renúncia do Presidente Bolsonaro é um ato de
manifesto desespero e falta de compreensão do momento em que atravessa o país e
o mundo.
Sem capacidade de unir o
Brasil ou até mesmo setores de seu governo, Bolsonaro vem pagando um preço
muito alto, que custa capital político e vidas humanas. O fenômeno da unidade
nacional em torno de um inimigo comum, no caso de guerras, tragédias naturais,
humanas ou epidemiológicas, onde se propõe uma racional e salutar trégua
política unindo o país, ao que parece, não chegará ao Brasil. Pelo contrário,
temos um cabo de guerra e uma babel mal engendrada por quem deveria assumir o
compromisso com os reais problemas do país.
Goethe, pensador Alemão,
estabeleceu frase célebre que se imortalizou e que, no presente momento, deve
servir como pensamento ao cenário político que se apresenta. Disse o escritor
alemão:
“Tudo o que é vivo forma uma
atmosfera ao seu redor.”
O Brasil precisa
urgentemente construir um ambiente politicamente favorável para dissolver os
arroubos ideológicos e políticos e entender que o inimigo é comum e precisa do
auxílio e contribuição de todos.