A
DESCONSTRUÇÃO DA VIOLÊNCIA NATURAL...
“O verdadeiro
problema para nós, não consiste mais tanto em recusar a violência quanto em
interrogar-nos sobre uma luta contra a violência que sem estiolar a não
resistência ao mal, possa evitar a instituição da violência a partir desta luta
mesma”
Para pensarmos em uma cultura de paz, temos
que proceder, primeiramente, à desconstrução dos princípios que legitimam
socialmente a violência. Essa desconstrução tem como objetivo retirar da
violência dois aspectos considerados essenciais para sua legitimação: presumida
naturalidade e a sua também suposta vinculação inextricável com o direito e a
ordem social.
Os apelos para uma cultura da paz encontrarão sempre dificuldades na
ambiguidade do espírito humano, constitutivamente paradoxal, que deseja o bem
continua fazendo mal. Contudo a efetivação de dispositivos operadores de paz
exige que pensemos os princípios filosóficos que tornam a violência algo
natural e como consequência contribuem para legitimar a inevitabilidade de
culturas violentas. Só após a desconstrução desses dispositivos de verdade, que
legitimam socialmente a cultura da violência, poderá se pensar em noivas
verdades sobre a cultura da paz.
A efetivação de
uma cultura da paz será sempre um horizonte apelativo para a conduta humana e
um limiar prescritivo para as sociedades. A paz, como todo ideal humano, sempre
será algo por construir, embora nunca poderemos deixar de implementá-la. Como
todos os valores e práticas humanos, a paz prescreve um modo ideal de vida.,
embora nossa condição histórica nunca permitirá que se realize na plenitude
almejada.
Para finalizar, a
própria racionalidade do capitalismo se legitima pelo discurso de que a
natureza humana vive num
estado de “guerra natural” em que o outro é sempre teu concorrente ou teu
cliente, do outro tens que aprender a aproveitar-te ou vencê-lo. O outro é teu
inimigo natural, com o qual vais concorrer, mais cedo ou mais tarde, por um
lugar social e só o mais forte vencerá. A consequência natural destas premissas
afirma que os excluídos são o resultado natural de sua incompetência. A violência se legitima, assim, como o elo invisível
que articula a lógica das relações do mercado e dos Estados. Enquanto persistir
o poder destas verdades, e seus
discursos sejam hegemônicos, todas as tentativas de efetivar uma cultura
da paz só serão adendos postiços de boas intenções no marco de uma cultura que
cultura a violência como valor natural dos mais fortes.