Os reflexos da falta de
merenda escolar na pandemia
Um levantamento realizado pelo Fundo das Nações Unidas pela Infância (Unicef), em parceria com a Inteligência em Pesquisa e Consultoria Estratégica (Ipec), revelou que 49% das crianças e dos adolescentes matriculados em escolas públicas do Brasil não receberam merenda escolar no período de fechamento dessas instituições devido à pandemia da covid-19. O estudo mostra que, no Nordeste, 16% desses estudantes deixaram de comer por falta de condições financeiras da família – o percentual fica abaixo somente da Região Norte (20%). As classes D e E foram as mais afetadas.
Infelizmente, podemos afirmar que Caruaru faz parte dessa realidade. Estudantes da rede municipal tiveram de enfrentar uma verdadeira ‘via-crúcis’, na luta pelo direito de se alimentar. Houve uma série de medidas falhas, que resultaram na entrega tardia de kits alimentares, muitos deles com qualidade questionável. Mesmo com a pressão do Conselho Municipal de Alimentação Escolar (Comae), dos demais poderes e da imprensa, houve falhas na disponibilização dos kits e, posteriormente, do cartão alimentação no valor médio de apenas R$ 40.
Esse não foi um caso isolado. O Centro de Apoio Operacional às Promotorias de Defesa do Direito Humano à Educação do MPPE contabiliza que mais de 40 Promotorias de Justiça abriram procedimentos e/ou expediram recomendações que tinham como mote a merenda escolar. Mesmo que não se possa afirmar, categoricamente, que os alunos desses município estavam em situação de insegurança alimentar, não se pode negar que os dados são preocupantes – afinal de contas, por trás desses números existem vidas.
As consequências dessas inabilidades das gestões públicas podem ser drásticas. Segundo especialistas de diversas áreas, uma boa alimentação é fundamental para o desenvolvimento infantil. A escassez de nutrientes resulta em dificuldades físicas e cognitivas, algumas delas irreversíveis. Os impactos podem perdurar durante anos, alcançando a fase adulta e gerando muitos obstáculos.