A TORRE DE BABEL
Todos estavam lá, precisavam
trabalhar, o projeto era comum, mas não se entendiam, não falavam a mesma
língua e o empreendimento foi perdido - “confundir a linguagem, de sorte que já
não se compreendiam um ao outro” (Gênesis 11-7).
A passagem bíblica é um
retrato dramático da forma pela qual os entes federados (União, Estado e
Municípios) estão a cuidar da crise da COVID-19. Não existe uma articulação
nacional que busque consenso na forma e
método de enfrentamento da pandemia. Estamos anencéfalos de Ministro da Saúde,
na maior crise médico, sanitária e de saúde pública de nossa geração. Nos damos
ao luxo de não ter no comando da saúde em nível nacional nenhuma pessoa ligada
à medicina ou à ciência médica. O governo federal, de forma irresponsável,
agindo de modo temerário, optou por não ser técnico no trato da saúde, quando o
momento desvela a necessidade imperiosa de um técnico para comandar os rumos da
saúde brasileira.
No Estado de Pernambuco, por
sua vez, se estabeleceu, ao que parece, um certo consenso entre Prefeitos e
Governador. O isolamento social, a quarentena, o uso de máscaras e fechamento
de parte do comércio e algumas atividades econômicas, parecem ter unificado o
discurso no que diz respeito ao método, mas o concenso termina por aí.
Em Caruaru, a falta de
diálogo entre o Governo do Estado e o Municipal resultou numa ação do estado
que deixou a população e a Prefeita surpresos. Na véspera de São João, dia
23/06, o Governo de Pernambuco, estabeleceu, através de decreto, um modelo de
quarentena mais rígido, aumentou a fiscalização e o policiamento, para
fechamento do comercio não essencial. O decreto recomenda que a população dos
municípios de Caruaru e Bezerros somente saia de casa para ir aos
supermercados, farmácias, padarias, postos de gasolina e serviços de saúde, ou
seja, serviços considerados essenciais.
Mais precisamente, o que
pegou a Prefeita de surpresa foi a falta de diálogo institucional, na forma em
que o decreto foi elaborado e divulgado. A população atingida pela medida e
seus respectivos representantes não foram consultados, ou sequer comunicados
formalmente. A Prefeita, os Vereadores os Secretários Municipais e Sua
Excelência, o Povo de Caruaru, souberam da medida pela impressa, em uma decisão
unilateral, com consequências bilaterais, ou multilaterais. A arenga do
Covid-19 bateu forte nossas paragens e diversas narrativas foram construídas,
começando pela ideia de que as medidas decretadas pelo Governo do Estado são
fruto de uma ação política partidária, passando pelo conceito sempre presente
de que não se pensou no povo, redundando na falta de competência e diálogo na
forma, modo e meios de tratar, combater e diminuir os casos de COVID-19 em
Caruaru e região.
A diversidade e as
diferenças de ângulos e pensamentos são por demais importantes, mas precisam
ser expostas. Na perspectiva de ouvir e falar, faltou isso.
Não sei quem começou essa
briga, mas sabemos quem está perdendo.