COMO PIORAR UMA PANDEMIA.
Ter uma pandemia é muito
ruim. Ter uma pandemia em meio a uma crise política, ou múltiplas crises
políticas, é péssimo. Ter uma pandemia em meio ao caos político e sem um
ministro da saúde é horrível. Por fim, ter uma pandemia em uma sociedade
dividida em opiniões de como lidar com a pandemia é algo imaginável.
Não podemos esquecer que no
meio da maior crise sanitária mundial, temos um inquérito que investiga o
Presidente da República e seu ex-ministro da justiça, e outro que investiga
fake news contra o Supremo Tribunal Federal, tendo como autores aliados do Presidente,
todos tramitando no STF, que, por sua vez, é contestado, atacado, sendo alvo de
incansáveis pedidos de fechamento e até prisão de seus membros (ministros). Num
congresso vacilante, entre tomar decisões firmes e assertivas e se locupletar
no banquete dos cargos públicos, temos mais de três dezenas de pedidos de
impeachment e sete pedidos de CPIs para investigar Bolsonaro, em resumo, um
caos. A única imagem que encontramos para retratar o momento nacional seria o
quadro de Pablo Picasso, Guernica, quadro histórico que representa, por meio de
vários elementos, a destruição, o caos e o horror provocados por seres humanos
a seres humanos.
Nossa geração atravessa o
maior desafio de sua época, e várias contingências não devem e nem poderiam ter
sido negligenciadas. No meio desse infortúnio, que recai sobre todos,
precisávamos, desesperadamente, de uma liderança que unificasse o país e
criasse uma pauta de coalização nacional, a fim de enfrentarmos um inimigo
comum e invisível. Infelizmente não temos um homem ou uma mulher, na vida
pública, detentor de mandato conferido pelo povo, talhado para tamanho desafio.
A liderança natural seria do Presidente da República, mas Bolsonaro mostrou-se
aquém do desafio que atravessamos, e, sem estatura de estadista, conduz o país
ao conflito fraticida, quando a ocasião recomenda o contrário, ou seja, a
união. O Presidente não apresenta soluções pacíficas, inteligentes e
coordenadas com prefeitos e governadores para sairmos da crise, pelo contrário,
tensiona o debate público, não busca concessos e coloca a culpa, por vezes, na
impressa, congresso e STF. Por outro lado, alguns governadores e prefeitos, e
suas respectivas administrações, aproveitando-se do ambiente caótico e
flexibilização das normas de compras e controle de gastos, cometeram o crime
abominável de, em meio aos corpos que se avolumam em cemitérios e hospitais,
surrupiarem de forma ardilosa e vil o erário público, sugando com respiradores,
ou melhor, aspiradores da corrupção o dinheiro da saúde, para abastecer seus
bolsos.
Isolamento Social vertical
ou horizontal, lockdown (confinamento), cloroquina e a hidroxicloroquina,
deixaram de pertencer e ser jargões dos médicos, sanitaristas, infectologistas,
e passaram a ter uma conotação política. Quando se fala, por exemplo, em
cloroquina, associamos o tema logo ao Presidente, e lockdown (confinamento) a
governadores e prefeitos.
Parte da sociedade tenta
criar uma agenda própria descolada do ambiente contraditório, complexo e
instável da crise pandêmica. Empresas, artistas e pessoas comuns acharam na
solidariedade uma forma racional de colaborar com esse momento difícil, e ações
carregadas de fraternidade eclodiram por toda parte de forma espontânea.
Ninguém, nenhum político ou instituição, pediu ao povo que ajudassem uns aos
outros. O sentimento de empatia brotou dos corações nobres e generosos, e
vivemos um momento único, onde só faz sentido ter momentos de alegria, com por
exemplo assistir a uma live, se ajudarmos os outros. Ficar em casa passou a ser
um gesto de amor e cuidado. É difícil conviver sem as orações comunitárias da
semana santa, sem os dias das mães, sem São João, mas tudo irá passar e
esperamos que possamos aprender com nossos erros e acertos.
Escrevo esse artigo na
esperança que alguém o leia no futuro e reconheça nossos erros e, quando se
deparar com algo semelhante ou igual, não os repita. Fique com a solidariedade,
isso sim salva vidas.